sábado, 25 de dezembro de 2010

Narciso



Narciso

Distinto ele nasce em meio ao mar
Que na tempestade, um raio de luz
Desceu o pequeno a tanto chorar
Abrindo seus olhos tão verdes e azuis.


Quão belo e singelo ele cresce a brilhar
Com sua beleza que cega olhos nus
As asas dos sonhos de toda mulher:
De longe um reflexo, e logo uma cruz.



Sincero ávido vindo a ajudar
Que nunca, jamais, poderia se ver
Pois belo e singelo viria a afundar.


No entanto, teimoso, não quis nada crer
Um dia a surpresa no rio foi ver
E em véus destas águas pra sempre nascer.
Lisa Stér Cöy.

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sábado, 9 de outubro de 2010

Troféu Surreal

Esmurrei um padre pegando sua idolatrada cestinha transbosdando de fé verde, vandalizei o quadro vermelho do ditador gigolô com anarquia preta, também destruí os cabos transmissores daquela emissora televisiva e ainda arranquei umas máscaras sangrantes rindo copiosamente.

Au, Au, ou... ou! Chutei a poltrona, manquei feio. Onomatopéias...

O arame farpado prendeu e rasgou um idiota que insistia em babar fezes enquanto resmungava ferido e amedrontado no quintal. Eu não tenho pena, não tenho mesmo. Que se exploda meu cinismo e sujeira moral, assumo mesmo: te desci a porrada!

Te amarrei para assistir sua desgraça, solei em meu baixo elétrico chorando e gritando desesperadamente e duas cordas grossas de metal arrebentaram cortando seu rosto.

Scarrf! Escarrei uma goma grossa e visceral que te encapuzou nessa podreira toda. Cuspi, sim senhor e foi fodido, você quase se sufocou no meu catarro.

Bati palmas e gargalhei do teu medo, pois te odeio, é puro sadismo meu. Pausa para meu riso! Eu quero rir, cacete! Ha, ha, he, he. Satisfeito!

Posso falar mais alto? Posso sim! Nenhum babaca vai me impedir, não podem te ouvir gritar! Eu tenho o megafone e seus ouvidos vão estourar com minha histeria!

Pingue, escorra nesse show desgraçado onde gerarei insanidade com tanta vodka na idéia, vou colocar a culpa nessa cachaça. Tá eu sei que não é cachaça, trepe com o gargalo!

Eu mato e torturo mesmo, eu te torturei e matarei mesmo na insônia voraz que me prostitui nessa merda fedida. Qual é a tua? Diz pra mim!

Só na minha cabeça você existe. Pare de chorar, é o fim!

Engulo risonho a chave para minha fuga, fico trêmulo com minha confissão amassada na mão, então rasgo o chão para longe do meu rastro rubro. Eles chegarão para nos recolher, não se preocupe. Você não foi escondido, sua cabeça está nessa mão. Já finquei teu corpo como troféu no portão de casa. Enrolei eles por meia hora dando prejuízo no fone deles. Agora eles querem me exibir e já estou devidamente trajado para isso.


- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2010.

Foto: "Bloody Trophy", troféu feito de sangue humano e sangue animal por Thyra Hilden e Diaz.
Portal da artista: Thyra Hilden

domingo, 12 de setembro de 2010

Romance Arriscado

Mesmo que estejamos fisicamente distantes estarei emocionalmente próximo,  sei que não sou o mais romântico dos seres e talvez eu não tenha as palavras certas para lhe cativar o entendimento de parte do que se passa em mim, não tenho domínio dessa empatia. Desejo-te pelos meus sentidos  e pensamentos que voam pelas doces e amargas nuvens que engulo durante minhas jornadas simultaneamente enquanto estou em sua presença. Fingiremos que o tempo parou, que não temos expectativas, que somos inocentes descobrindo o amor pela primeira vez, assim seguiremos, ignorando a inconveniente existência de obstáculos entre nós.

Nesse tempo que nos resta assistiremos o pôr do sol e dormiremos antes que ele se erga novamente, celebrando nossos momentos passageiros como se fossem os últimos. Num encontro entre o etéreo e o material negaremos a cobrança de certezas nessa vida tão incerta. Onde a efemeridade existencial que tanto nos fere ainda nos proporciona prazeres na persistência da convicção. Sejamos então corajosos para nos afundar nessa experiência na qual a virtualidade e realidade revelam nosso romance arriscado, que de tão incógnito nos fascina e envolve.


- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2010.


Foto:  Cena do filme "Asas do Desejo" (Wings of Desire) de 1987.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Os elementos e os sentidos de minha vida



       Quando eu andava na praia, ao nascer do sol nas manhãs de primavera, naqueles anos tão fortuitos e que passaram tão rapidamente como beija-flores de flor em flor, eu me sentia a única pessoa do mundo.
       Pode parecer egocêntrico, e é, tenho plena consciência disso, mas é a forma mais simples de explicar tais sentimentos tão exóticos.
       Não há nada como relembrar aquela época marcada pelas visitas ao mar à noite e a lua refletida e espalhada nas ondas rebeldes. Ao mesmo tempo intacta, incandescente e encantadora no céu azul marinho limpo como tecido cravejado de diamantes, ou estrelas, como preferir chamar.
       Cada pegada: cada pequena pressão sobre a areia úmida causava os leves lagos sem peixes, mas carregados por toda uma vida e memórias nas energias sob os meus pés. Cada um significava um fato, uma emoção ou simplesmente um pensamento. Tudo importava em cada momento.
       Você sabia que os melhores diários estão escritos no ar? Escritos com cada parte do corpo humano e objetos e coisas que ninguém jamais imaginaria que poderiam ser usados com tal objetivo: registrar o amor em cada pedacinho desse mundo afora. O amor dos melhores momentos da vida. O amor dos melhores momentos de amor.
Lisa Stér Cöy.

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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Missão Preciosa

Cadavérico e envolto em mortalhas,
ele empunhou sua foice necrótica
e montou seu cavalo fantasma.

Da interseção de luzes e sombras,
sons e silêncio mesclavam-se
anunciando sua nobre chegada.

Exterminou centenas de vidas
traçando a tênue passagem
da matéria ao espectro.

Então o ceifador sinistro sorriu,
ao cumprir sua missão preciosa
naquele conflito degradante.


- Mensageiro Obscuro.
Agosto/2009.


Foto: "Death on The Pale Horse" por Gustave Doré.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Uma Carta Que Não Entreguei

Tive uma longa conversa com um amigo na semana passada, onde viramos a madrugada conversando e concluímos que realmente a vida faz piadas ou tem vezes que viramos meras piadas na vida, ah... essa é uma dura realidade das piadas que fazemos e das piadas que podemos ser, mais uma daquelas tantas realidades que devo enfrentar de cabeça feita, sim, de cabeça feita. Ser só seu amigo é realmente perturbador, ainda é mais chato quando me dizem que sou egoísta em te amar desejando ser amado, é como se me dissessem para que eu vivesse um eterno amor não correspondido, enquanto quem comentou sobre isso já tem uma relação correspondida e sólida, assim é moleza dar palpite. Já se foi o tempo em que por duas vezes eu declarei o que penso e sinto por você e ao ser rejeitado sumi de sua vida por meses, evitava te encontrar, não queria conversas longas por telefone, internet, pombo-correio, telepatia e sei lá o que mais. Talvez o meu erro tenha sido em liberar tanta intimidade para que você descobrisse os carinhos mais doces que só você sabe fazer em meu corpo, exatamente do jeito que gosto, desde as leves provocações até leves marcas em minha pele que despertam minha libido. As coisas que vivemos juntos foram maravilhosas, mas sinceramente... cansei! Já te disse várias coisas, já ouvi muito mais, não vou negar que tivemos grandes momentos. Sim, tivemos várias situações marcantes: desde belos passeios com pouco dinheiro nos bolsos; as gargalhadas de minhas piadas de humor negro para você; nossas situações tragicômicas regadas a calorosos abraços e voz baixa no ouvido; a cômica situação na qual pensavam que somos namorados, que eu estupidamente queria que isso virasse realidade; e o namorico despretensioso no portão de sua casa em pleno começo de madrugada, onde nossas vozes eram tão baixas e embaladas pelos nossos batimentos de cardíacos tão grudados no abraço. Não tenho como esquecer o passado, boa parte das melhores coisas do ano de 2005 até hoje foram junto com você, eu seria mentiroso se dissesse que não valeu de nada. Você é uma mulher cativante de quem sou íntimo e isso é cada vez mais escasso, portanto não preciso disfarçar frieza a ponto de dizer que você é só mais uma distração casual na minha vida.

Sigo parte dos meus instintos e lembro em como sofri por tentar fugir ao que realmente sou e de quem sou. Entenda que sou só um animal selvagem se adaptando a uma sociedade degradante e destroçada por sua própria espécie dominante. Você não entende o que me fez te largar ao vento como se fosse folha seca rodopiando pelo ar aos comandos ambientais, assim, tão livre e solta para que seja feliz, ou para que pelo menos busque o que te cativa. Quer saber a verdade nua? Pois eu te respondo e respondo mesmo: a verdade é que cansei de tudo isso... cansei desse jogo infantil e limitado no qual você sempre recua, somos adultos. Não te quero pela metade e minha fome de viver momentos únicos com você é maior que as parcas esmolas que você atirou nessa minha cumbuca pidona, fazendo com que eu me considere um coringa excluído sobre uma mesa de poker. Você pensa e sente coisas que sua opacidade não me permitem desvendar e sobre tantas questões dúbias e sou um homem de certezas, justamente suas dúvidas é que me atraíram jogando-me nesses brinquedos de parque de diversões de fantasia e dor. Pode ser que eu esteja em um devaneio poético típico de um idiota que ama e só sabe nutrir amores impossíveis, daqueles que escrevem suas fantasias copiosamente, regados a música com dor-de-cotovelos e álcool.

Desisti de relacionamentos falidos com mulheres que nunca vão me amar, nasci para o prazer e não para a o sofrimento, te digo: amar você dói, dói pra cacete! Já conheço sua conversa sobre voltar a tentar algo diferente como apenas amigos. Quando você me disse que eu deveria dar valor a esses cinco anos de tanto contato. Tanta amizade, tanto que reprimi em mim para não te tomar aos beijos mais intensos enquanto você provocava e recuava, sei como isso me feriu. Já quis passar uma borracha em tudo, tentar começar do zero. Orgulho-me de não ter me acovardado pela timidez e orgulho típicos do meu comportamento passado. Confirmo que estou cético quanto a tudo isso, cético de verdade por duvidar de um futuro namoro com você e até sobre encontrar uma mulher com quem realmente eu combine nesse louco quebra-cabeças onde minha forma é tão exótica e não existe encaixe exato. Eu deveria ter sumido de vez da sua vida, mas atendi seus chamados insistentes e voltei a te amar de uma forma diferente de antes, mas ainda assim um amor diferente da amizade do início de tudo. Sumir de sua vida teria sido minha opção mais inteligente a seguir. Hoje eu já teria evitado todos os encontros após a segunda vez em que me rejeitou, então só assim eu estaria melhor nesse sentido. 

É melhor perder tudo de uma vez no lugar de apenas me contentar com migalhas de incertezas e tantas dúvidas, mas o passado é apenas um prenúncio de lembranças para rir ou chorar num futuro. Preparei minha cabeça para suportar toda essa carga do luto pelo Dia do Fim que durará no máximo 24 horas, onde chorarei tudo que preciso bem distante dos demais. Farei isso bebendo e comendo alguma coisa, meio que sem vontade, com uma caneta na mão e guardanapos gentilmente cedidos pelo garçon cansado e entediado que me atenderá. Escreverei uns versos e estrofes ou linhas e parágrafos nessa minha decadência momentânea e assim, contemplarei o sol se pondo belamente em tons pastéis, com a brisa marinha surrando meu rosto já molhado pelas últimas lágrimas. Realmente você não tem noção do que se passa em mim, nem saberá, pois no dia seguinte serei um homem readaptado. Claro! Não vou choramingar por causa de mulher por mais que apenas um dia. Existem dezenas de outras opções pela frente e ainda tenho mais cinco nomes de mulheres para sair, escritos naquela agenda preta pequena, aquela mesma que nunca te deixei ler. Entre várias anotações existem opções de sobressalência para passeios que misturam conversas razoáveis, risos, carinhos, algumas possibilidades de beijos e talvez umas brincadeiras sacanas para não chegar em casa completamente casto, por isso declaro o fim desse circo onde o palhaço era eu e você era a platéia, não quero mulher-problema, quero mulher-solução.


- Mensageiro Obscuro.
Abril/2010.


Foto: "Don Quixote" por Gustave Doré.

sábado, 27 de março de 2010

Fascinante Poetisa


Seus poemas me seduziram
Jogando-me em outras dimensões
De maneiras tão profundas
Onde não cabem as falas.

Cativa-me a cada conversa
Pela sua mente sensível
Como a fascinante poetisa
Que desejo em dias e noites.

És fruta de aroma doce
Que engana meus sentidos
Em beijos e toques oníricos
Que erguem minha libido.

Nossos corpos separados
Geram a dor saudosista
A qual terminará devagar
No calor de sua pele.

Voz e letras somam-se
Aos nossos corpos,
Expressando tantas coisas
Somente entendidas por nós.


- Mensageiro Obscuro.
Março/2010.


Foto: Clarice Lispector quando jovem.

sábado, 20 de março de 2010

Pinturas de Guerra

Sinta a energia crescer em ti,
Tome-se por tua fúria
E esqueça a civilidade.
Sejas brutal.

Abandone essas roupas,
Use pinturas de guerra,
Gire tua cabeleira e rosne,
Grite e urre... sinta.

Instintos clamam liberdade,
Enquanto músculos
Adaptam-se ao frenesi
E tua fera quer lutar.

O corpo é uma grande arma,
A bestialidade é seu escudo.
Cicatrizes são medalhas,
Tu és arma viva.

Desça feroz na arena,
Extraia o néctar da carne,
Aniquile seu inimigo
Na noite da carnificina.


- Mensageiro Obscuro.
Agosto/2009.

Foto: Índio guerreiro da tribo Pataxó.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Falso encanto













Esvaziar a alma ébria da melancolia
E deitar ao lado da lua,
o corpo de mulher nua.
Vibrará das suas curvas a mais linda melodia.


Mesmo que tardia
venha a insípida rotina
e intrigue a consciência libertina
E agora? Já é dia!

Mesmo que o romance seja um falso encanto
Nesse abismo, eu me lanço
e me arrisco tanto.

Estico as mãos e alcanço
Um dia eu paro
e no outro balanço.

Soneto de Andréa de Azevedo não tão recente assim...

A Vida é Curta Para Fugir

Diante de tua presença
Pêlos arrepiam e a boca treme,
Palavras não saem
E assumo o animal que sou.
Tomo-a de surpresa
Arrancando tuas vestes
E dominando teu corpo.
Quero teu prazer e entrega,
Chame-me de bruto e libertino,
É dessa forma que te amo.

Continue fingindo frieza
Com teu jogo de sedução.
Brinquemos hoje,
Só temos o agora.
Agarre-se em minha pele
Amanhã poderá ser o fim,
Pois a vida é curta para fugir.



- Mensageiro Obscuro.
Maio/2008.



Foto: "The Lady of Shallot" de John William Waterhouse, 1888.

domingo, 7 de março de 2010

Noite qualquer

(Mailson Furtado)
  Noite de lua
Que espera a janela
Na visão que espera
Ansiosa eu olhar.


Noite enxuta
Sem nuvens, nem sonhos
Espera o encontro
Que de nós pode dar.
Sobral, CE, 4 de março de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Saqueador de Almas

Ele dormia envolto em nobres vestes com ricas jóias,
Um vampiro faminto saqueador de almas corruptas,
Suas habilidades e poderes são tão intensos quanto sua fome,
Possuía um desejo pervertido e insaciável por sangue.

O Poder consumia sua sanidade ao correr por suas veias,
Sua energia exalava terror pelas noites nebulosas de caça,
O usurpador saía faminto de seu túmulo à noite,
Sua luxúria era saciada em caçadas por carne e sangue.

Há muitos séculos perdera seus traços de humanidade,
Seu Ka fora amaldiçoado, não chegaria ao Amenti,
Ganhou uma existência amaldiçoada pelos deuses,
Agora o Egito adquiriu um novo demônio sanguinolento.

Passou suas garras e presas nos corpos de suas vítimas,
Dilacerou carnes e ossos por fome e prazer,
Corpos em espasmos foram consumidos pelo monstro,
Gritos e violência contagiavam ambientes invadidos.

Sobraram paredes e um assoalho manchado após sua visita.
Correu para banhar-se, ainda com mãos e lábios vermelhos.
Gargalhou de si mesmo vendo seu reflexo turvo,
Olhou seu próprio rosto pálido e brilhoso no espelho.

Na banheira cochilou como se fosse seu valioso sepulcro.
Sua ira e gula fizeram-no chorar parcas lágrimas inconsistentes.
Sua noite estava acabando, tinha de fugir do sol,
Vestiu outras roupas e retornou voando como névoa.

Sangue corrupto era o seu alvo, o Néctar do Justiceiro,
Era o Saqueador de Almas, um semideus sugador de sangue.
Seus leais servos enalteciam de seu egocentrismo divino,
Somente espíritos nobres salvavam-se de sua fome agressiva.

Novas noites sangrentas ainda alimentariam o insano usurpador infeliz.


- Mensageiro Obscuro.
Junho/2007.


-- Glossário --

Amenti = Habitação dos mortos, a segunda etapa da Viagem, morada de Osíris onde são julgados os mortos.

Ka = Estranha dualidade do morto: Alma e Guardião, Corpo Vital e Gênio Protetor.

Néctar = Alimento dos deuses. Dava imortalidade aos que o comiam e tornava-os eternamente jovens e radiosos.

Segunda Morte = Para os egípcios a morte material pouco importava, para eles era bem pior ser um espírito perverso a receber altas punições na sua pós-vida no Além, então a Segunda Morte sem dúvida era a pior punição acima de maldições divinas.


Foto: Boris Karloff como Imhotep no filme "A Múmia" (1932).

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O vazio

(Thiago grijó silva)


A fúria desperta

Minha alma deserta

Um coração sem guia


A dor me acompanha

Um coração sem dono

Sofre sem alegria


A fúria começa

Quando a alma desperta

Pra vida


A fúria termina

Quando a alma adormece

Sem vida

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Aqui ninguém comenta nada!


Aqui ninguém comenta nada! Não podemos ser tão solitários assim...todos escrevendo dentro de suas bolhas...tão solitários quanto. Tive a iniciativa de escrever esse texto. Pode não ter sido a grande ideia. Mas queria inquietá-los e fazer com que saiam de suas bolhas e se apresentem. Ahãm...deixa eu começar...me chamo Andréa de Azevedo. Escritora amadora do blog Desengavetados, blog que ultimamente tem perdido sua popularidade...rs Sabe, isso não me incomoda e nem fico triste. Até porque sei que meu objetivo nunca foi ser: a poetinha famosa de São Gonçalo.
Me incomoda muito mais quando escrevo solitariamente sem travar diálogo com outrem. Sei que sou um ser anônimo que se esconde muita das vezes aqui, entre uma letra e outra desses escritos digitais. Poetas, eu sei muito bem amordaçar a minha boca e conviver no mundo dentro do regime, dentro do que as pessoas impõem. To dizendo que sei engolir meus sapinhos direitinho. E mesmo que eles tenham sido engolidos com classe, ainda pulam na minha barriga porque os engoli inteiros. Assim é o mundo: injusto, febril, cercado de egoísmo e egocêntricos...
Do contrário, aqui é espaço de liberdade! Usamos a nossa arte para nos libertar e manter diálogos!Apesar do meu hermetismo, da minha blague, da minha autocrítica, sei conviver...
Bem, não sei se me faço compreender ...o que pretendo é falar com os (as) senhores (as) e não com os leitores. Pra minha surpresa, não vejo leitores aqui comentando...e pra quem escrevo? Escrevo pra mim assim tão egoísta? Ou escrevo para os (as) senhores (as) poetas? Poetas! Vamos manter então nossos diálogos, comentar os versos dos outros ou preferem ficar em suas bolhas???
Me incomoda profundamente ter esse espaço aqui e não ver que fizemos algum laço e que perpassamos a ponte e não estabelecemos ligações...Não posso ser a única a pensar assim!
Amistosamente venho aqui interpelar os (as) senhores (as) poetas! Assim que forem postar os seus textos acenem, digam algo!? Não se fechem em suas escritas!
Gostaria de uma resposta. Será que há nesse blog alguma objeção? Desafio o primeiro a se apresentar e travar um diálogo comigo, queria tanto conhecê-los e isso não se trata de um apelo mas sim de uma necessidade de uma poeta que carece ser acolhida aqui. Não permitam que eu engula mas um sapinho e esse fique a pular na minha barriga por falta de compreensão.
Vamos, apresentem-se ! Vamos unir nossas literaturas, nossas ideias...não deixem as ideias boiarem e não as tomem somente para si. Saiam de suas bolhas e conquistem!
Andréa de Azevedo.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Fuga de Destino

(Mailson Furtado)

http://mailsonfurtado.blogspot.com

Meu destino fugiu de mim

procurando uma estrela.

Foi buscar talvez assim

outro cara que lhe mereça.


Meus herois já não existem

e agora chove lá fora.


Meu destino fugiu de mim

se mudou p'routro planeta.

Foi procurar talvez assim

uma pessoa que eu nem conheço.


De olhos fechados

a porta entre-aberta

Teus suspiros me deixam inquietos.

Eu te escuto

em meu silencio mudo

Passeando em minha mente, meu mundo.


14 de setembro de 2009

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Amanhã? Ou será hoje?



Ao vento farei continência
quando não mais poderá responder
e por consequência
quem sabe por nossa demência
não haja mais razão
ou qualquer conexão
que nos faça tecer ordem
que nos faça tecer progresso.

Tendências serão massacradas
a tendência é ser massacrado
nossa moda: vestir trapos
mas só pra quem puder usar
pois até na fossa ou no bueiro
ainda terá gente em farrapos
querendo ser melhor que você
zombando do próprio cheiro.

Trocaremos dedos por sacas de arroz
e filhos por fatias de pão
poderemos cair, agonizar e morrer
mas ninguém estenderá a mão
pois terá medo que você a arranque
pois terá medo que você a jante
ou até mesmo faça um bibelô
um troféu a mais, uma morte na estante.

Quando ao vento tentarmos responder
não mais haverá quem o acorde
pois o medo da falta
e o almejo do excesso
fez-se sufocar o próprio peito
pouco a pouco falecer
e quando algum ser quiser novamente ser
não haverá mas jeito.

Lisa Stér Cöy.

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sábado, 30 de janeiro de 2010

Farelos

O dia em que se está é isolamento.
Vasto espaço ermo,
sem população humana.
Um átimo de silêncio.
Privação voluntária e pessoal.
Uma via a qual atravesso.
A cada sinal, estreita-se o tempo equivalente.
É diálogo meu e a vida se movimenta,
dizem até que a Terra não para de girar. Nela, habitam corpos cansados.
Pés se apóiam ao chão.
Olhos se cruzam permitindo desvios.
Garganta ferida com o punhal. A vida é uma aparição.
Mas do caminho para casa, é deserto.
Cato farelos de sonhos.
Cato farelos de amores.
Tenho os meus flagelos.
Cato farelos e vou à toca para mastigá-los.
Cato farelos da toca e os pedaços não sei repartir.
Mas posso contá-los.
Contá-los a minha consciência.
Não faço análise para descobrir quem sou.
Essa é uma resposta que não vou obter,
minha constante fusão se perde em minhas variações.
Diversos papéis são executados
e é preciso ter educação ao se sentar à mesa.
Curtas amizades se vão,
queria ter criado raiz.
Por que as relações amistosas se tornam desconhecidas?
Não faço análise para descobrir quem sou,
cato farelos às escondidas,
em uma cena muda,
quase pantomima.
Sou dançarino solista que dança de pernas quebradas
e se relaciona recipocramente
ao tom harmônico da vida.

Andréa de Azevedo.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Fúria Selvagem


Meu ódio é extenso e implacável,
É uma fera faminta e voraz
Que corre sobre tua sombra.
Não espere que eu tenha piedade
Ao hesitar em lhe atacar.

Em minha mente tu sofres demais,
Com meus olhos calculo tua distância,
Com meu nariz sigo teu rastro,
Com meus ouvidos busco teus sons
E com minha boca hei de lhe rasgar.

Minhas mãos estão armadas,
Minhas pernas lhe perseguem,
Chore e esconda-se
Cale-se e finja que sumiu
Eu vou encontrá-lo.

Tua pele será separada da carne
Em uma bruta tortura sem igual.
Acabou-se tua existência!
Tu és caça, eu sou caçador
Essa é minha fúria selvagem.


- Mensageiro Obscuro.
Novembro/2009.


Foto: "Dante and Virgil in Hell" de William Adolphe Bouguereau, 1850.

Margarida




            Paredes, cantos, portas, janelas. Paredes, cantos, portas, janelas. Paredes, cantos, portas, janelas. Não consigo ver além.
            Procuro e tento. É tenso. Incomodantemente tenso. Como aquele músculo que se enrijece sem motivo algum e dói. Seria boa, de fato, uma massagem. Mas não seria a solução. Sequer meus músculos têm problemas. Só queriam realmente poder se mover.
            Deslizei meus olhos para o canto direito do quarto e percebi uma flor. Uma margarida que provavelmente trouxeram enquanto eu dormia. Por que?
            Suas pétalas já não tinham o mesmo brilho, suas folhas já não eram tão verdes, seu caule já não tinha mais vida. Ou seja, ela já não viveria. Como um corpo que, jogado à mercê, apodreceria aos poucos até que não conseguissem mais viver com sua aparência e fetidez. Sua invalidez.
            Um dia os olhos de todos se cansarão daquela mesma margarida. De mim. Margarida. E procurarão por uma Violeta, ou Girassol, ou Orquídea, ou Rosa. Pois os olhos se cansam, sempre, não é?
            Mas quando meus olhos cansarem, já não estarei aqui, pois prefiro que descansem.

Lisa Stér Cöy 
(10/01/10 – 22:21h)
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Verdade

(Mailson Furtado)

A verdade não cabe numa só versão

E tantas delas, assim,

guardadas n'uma prisão.

Como mentiras e outras coisas

que despertam atenção,

A exemplo das verdades de televisão.

Suas verdades podem ser ou não:

verdades ou simples invenção,

podendo sim, por que não?

Ter ou não ter sequer uma razão.


16 de dezembro de 2006