sábado, 16 de janeiro de 2010

Margarida




            Paredes, cantos, portas, janelas. Paredes, cantos, portas, janelas. Paredes, cantos, portas, janelas. Não consigo ver além.
            Procuro e tento. É tenso. Incomodantemente tenso. Como aquele músculo que se enrijece sem motivo algum e dói. Seria boa, de fato, uma massagem. Mas não seria a solução. Sequer meus músculos têm problemas. Só queriam realmente poder se mover.
            Deslizei meus olhos para o canto direito do quarto e percebi uma flor. Uma margarida que provavelmente trouxeram enquanto eu dormia. Por que?
            Suas pétalas já não tinham o mesmo brilho, suas folhas já não eram tão verdes, seu caule já não tinha mais vida. Ou seja, ela já não viveria. Como um corpo que, jogado à mercê, apodreceria aos poucos até que não conseguissem mais viver com sua aparência e fetidez. Sua invalidez.
            Um dia os olhos de todos se cansarão daquela mesma margarida. De mim. Margarida. E procurarão por uma Violeta, ou Girassol, ou Orquídea, ou Rosa. Pois os olhos se cansam, sempre, não é?
            Mas quando meus olhos cansarem, já não estarei aqui, pois prefiro que descansem.

Lisa Stér Cöy 
(10/01/10 – 22:21h)
www.lisastercoy.com
www.muquifodeletras.blogspot.com

Um comentário:

  1. Infelizmente existem pessoas idiotas, fúteis, superficiais, efusivas, decadentes e grosseiras que viram escravos alienados perfeitos para o Sistema, assim o doce perfume de diversas formas de existências não chega aos seus sentidos, pois certas pessoas não tem mesmo sensibilidade e maturidade para captar as diferentes nuances da vida.

    Muitas flores morrem, mas da morte nasce a vida e da vida nasce a morte, assim o ciclo se proclama como contínuo e a margarida antes viva acaba por não só morrer, mas vira algo além.

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