quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Soneto Folião

E como chora o Pierrot, eu o faria,
Por não tê-la aqui tão perto assim.
Mas só agora eu percebo a agonia
Qu’é vê-la como d’outro, no abraço do Arlequim.

Então resumi minha folia
Na singela lágrima mascarada;
Quando não me contive e a alegria
Foi sonhá-la aqui, como minha amada.

Mas sei que sou pouco pra seu coração de menina:
Derramo outro choro qu’a máscara encobre,
Porque caí de amores pela Colombina

E não há escape para meu coração pobre.
Exceto aceitar que prantear é minha sina,
Enquanto vivo a dizer que minha paixão é nobre.


Em tempos de fim de carnaval, é interessante ser encontrado por um poema como este, que veio à luz da madrugada, regado à insônia e saudade!!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

IDEAL

Ela era branca, pouco corada, detalhe imperceptível, contudo, posto qu’ era noite; andava de forma calma e refletia a luz qu’ a noite não possuía. Mas, em deslumbramentos, comecemos – por sobre sua fronte espalhava-se um véu castanho claro, sob o disfarce de cabelo, levemente escurecido pelo ambiente noctívago, não pouco umedecido pela atmosfera da madrugada.
Envergava vestes carnalmente divinas, posto que, ao invés de despertar volúpia, emanava um senso quase celeste e, pasme, eterno. Cobria-lhe o dorso cândido uma bata ajustada ao corpo virginal, bata alva de igual modo e de babados que perpassavam as extremidades das mangas e de sua gola; acima de seu colo, envolvendo-lhe o pescoço, uma tênue tira de couro enegrecido fora atada num delicado laço oculto pelo cabelo, que o cobria.
De súbito, tivemos a impressão (ora tivemos a certeza!) de que o paraíso perdera duas ninfas, uma vez que, de chofre, nossos sedentos olhos se brindaram com uma nova varoa de aparência assaz divina quanto a da primeira.

(este é dedicado àquelas capazes de trazer certo sentido à vida de poetas apaixonados)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Rito de Uma Lágrima

Há uma lágrima que, contida
Faz seu trajeto em meu rosto, gotejante;
Vejo um sentimento antigo e sem vida
Que ressuscita-se a si, do pó, errante.

Há a confusa certeza da derrota
E a troca dos papéis uma vez mais…
…há catedrais que desmoronam à minha volta
Além de sinos que se ouvem… não se ouvem mais.

É confuso, volta, retorna e se vai,
Mas, na verdade, nunca saiu de seu posto.
Então como pode ter essa força que me atrai?
Maldito sentimento, que, confuso, é meu desgosto.

Então eu desço àquela escadaria,
Que é palco de todo o meu desejo…
…desfruto das gotas dessa espúria agonia
e mostro-me vencido diante do que vejo.

Mas logo que ela vem, traz,
Sob seus belos risos, salvação.
Traz também beleza, força, calmaria e paz…
Conduz-me ao encanto de um perdoado coração.

E o perdão, emoção tão esquecida,
Torna-se, com ela, sentimento primo…
…quando, puro, a amo e me perco em minha vida.
E a escalo, sem medo, pronto a alcançar-lhe o cimo.